1/05/2010

Li num livro que

A Europa foi e é percorrida a pé. Isto é fundamental. A cartografia da Europa é determinada pelas capacidades, pelos horizontes percepcionados dos pés humanos. Os homens e as mulheres europeus percorreram a pé os seus mapas, de lugarejo em lugarejo, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade. O mais das vezes, as distâncias têm uma escala humana, podem ser dominadas pelo viajante que se desloque a pé, pelo peregrino até Compostela, pelo promeneur, seja ele solitaire ou gregário. Há extensões de terreno árido, proibitivo; há pântanos; os alpes elevam-se. Mas nada disto constitui um obstáculo intransponível. Não há Saras, Badlands, tundras inultrapassáveis.
(...)
Mateforicamente, mas também, materialmente, essa paisagem foi moldada, humanizada, por pés e mãos.
George Steiner | A Ideia de Europa
Não sei bem porque pus isto aqui. Creio que há vários significados a retirar disto. Vários tópicos a serem tocados. Dei por mim (apenas) a pensar nestes:

"Não é possível ir a pé de uma cidade americana a outra. Os desertos do interior australiano, do sudoeste americano, os "grandes bosques" dos estados do Pacífico ou do Alasca, são praticamente intransponíveis" (George Steiner em A Ideia de Europa)
Não temos total noção da sorte que temos em vivermos numa Europa tão cheia de várias culturas, diferenças e línguas. Somos muito ricos e temos tudo ao nosso alcance para não perdermos nada;

Juntamente com a lembrança do livro de José Saramago Memorial do Convento (don't ask) orgulhei-me de Portugal. Fomos ágeis de pensamento e acção e de uma bravura imensa na época dos Descobrimentos. Muito burros por termos deixado tudo a descambar;

e por fim:
"Seremos o que quisermos"
Nem as montanhas mais altas nem o campo mais extenso impede um caminhante de prosseguir o seu caminho.

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